Ser criado por pais com Inteligência Emocional baixa

Iniciado por Saphira, Dezembro 08, 2016, 21:15:00

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Saphira

Inteligência Emocional: A capacidade de identificar, avaliar e controlar as próprias emoções, as emoções dos outros, e as dos grupos.

Infância Emocionalmente Negligenciada: Falha dos pais para responder às necessidades emocionais da criança.

No fundo, os pais com baixa inteligência emocional são boas pessoas. Trabalham arduamente e nunca faltou cama lavada, roupa e uma refeição quente na mesa. A criança vai para a escola todos os dias e faz os trabalhos de casa ao fim da tarde. Tem amigos e faz desporto. Vendo bem, até é uma privilegiada.
Mas apesar disso, apesar de saber que os seus pais a amam, e apesar de ter 10 anos, ela sente que está sozinha no mundo.

Como é que uma criança de 10 anos sente isso? Porquê? A resposta é tão simples quanto complicada:
A criança está a ser criada por pais com Inteligência Emocional baixa. E consequentemente está a viver uma Infância Emocionalmente Negligenciada.

Motivos que levam a criança a ressentir-se:
1 - Quando os pais não sabem identificar as suas emoções, não sabem também aplicar uma linguagem emocional em casa.
Em vez de dizerem: "O que é que se passa? Pareces triste. Aconteceu alguma coisa na escola?" Dizem: "Como é que foi a escola?"
Quando os avós morrem, a família marcha no funeral como se não fosse nada de especial.
No dia da entrada para o secundário, a família tenta dar o seu apoio nunca falando sobre o assunto, ou então estando constantemente a relembrar a data, fingindo não perceber que a criança está nervosa, para evitar falar sobre o tema.
Resultado: A criança não aprende a ser auto-consciente. Não aprende que os seus sentimentos são reais e importantes. Não aprender a sentir, a confrontar ou expressar emoções.

2 - Quando os pais não sabem gerir e controlar suas próprias emoções, não serão, também, capazes de ensinar a criança a gerir e controlar as suas.
A criança apanha um castigo por responder a um professor. Os pais não lhe perguntam o que se passou, nem porque é que teve aquela atitude, nem como deveria ter lidado com aquela e outras situações desse género. Em vez disso, castigam ou gritam com ela, ou culpam o professor, desresponsabilizando a criança das suas acções.
Resultado: A criança não aprende a gerir os seus sentimentos e a lidar com situações adversas.

3 - Quando os pais não entendem emoções, acabam por transmitir muitas acções e comportamentos errados por falta de comunicação.
Os pais não se apercebem que a criança é muito ansiosa e isso a prejudica ao nível do desempenho escolar. Acham somente que o filho é preguiçoso.
A família chama a criança de mariquinhas porque chorou dias a fim quando o seu gato foi atropelado.
Resultado: A criança cresce insegura, por ter ouvido sempre que era preguiçosa, fraca e mariquinhas.

Todas esta situações fazem com que uma criança se ressinta e se debata constantemente com os seus sentimentos. A criança está fora do seu verdadeiro Eu, porque se vê sempre através dos olhos de pessoas que não a conhecem realmente, e passa a ter uma grande dificuldade em lidar com situações de stress, difíceis ou conflituosas.

E você? Revê-se nestas situações?
É tarde demais para si? Não, nunca é tarde demais, pode sempre mudar esta situação.
DICAS DO QUE SE PODE FAZER:


1 - Saiba tudo o que puder sobre as emoções. Comece o seu próprio programa de treino emocional. Preste atenção aos seus sentimentos – o que sente, quando e porquê. Comece por observar sentimentos e comportamentos dos outros. Ouça como as outras pessoas expressam emoções e comece a praticar. Pense em quem da sua vida, agora, pode ensina-lo. A sua mulher, o seu marido, o seu irmão ou amigo? Pratique falar sobre os seus sentimentos com alguém em quem tem confiança.

2 - Cale de vez essas falsas mensagens da sua cabeça. Quando essa "voz" da sua infância falar, pare de ouvir. Substitua-a pela voz que você conhece e controla, aquela que tem compaixão e que se emociona porque você não começa nos seus pais. "Eu não sou preguiçoso, sou ansioso e eu estou a tentar superar." "Eu não sou fraco. As minhas emoções vão tornar-me mais forte." Esperemos que perceba que lhe faltaram algumas bases no seu crescimento emocional, simplesmente porque os pais também não as tinham. Esperemos que aprenda a desvalorizar estas vozes de Inteligência Emocional baixa que lhe ficaram gravadas na memória. Esperemos que se descubra a si própria e que se atreva a ser genuína.


fonte: http://uptokids.pt
"As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos." - Charles de Gaulle

Pucca

Isto é uma bocadinho relativo, pois a inteligência emocional tem vários aspectos. Há sem duvida um parte do seu bom ou mau desenvolvimento que pode ter com as condições da infância, mas a maior parte existe, independentemente de tudo o resto no que chamamos personalidade e ainda outra parte que se relaciona com as interacções sociais, escola, trabalho, inserção social.

Uma criança pode vir de uma família de baixa inteligência emocional e ter em a si a capacidade de se tornar um individuo de alta inteligência emocional, pelas suas capacidades próprias. É um erro pensar que como nasci na família X, estou condenado a ser X+1 e é também a lei do menor esforço...como não posso ser Y o melhor é nem me aborrecer em desenvolver essa qualidade.

Saphira

Pucca, infelizmente eu nasci numa família assim e identifico-me 90% com o que está no texto. Para teres noção, quase chorei a ler o texto.

Mas concordo contigo no aspecto de que quem é criado assim, não tem de ficar igual. Eu sou a prova disso: devido aos meus problemas familiares, eu própria, ainda adolescente, pedi a uma psicóloga para me acompanhar, para ter algum apoio...acompanha-me até hoje, embora com menos frequência.
Ela diz que eu sou das pessoas com mais inteligência emocional que já conheceu.

Apesar de eu perceber muito bem os outros, do que sentem e o que se passa em meu redor, incluindo analisar os meus sentimentos e saber expressá-los, sofro as outras consequências referidas no texto:
- "Não aprende que os seus sentimentos são reais e importantes. "
- " A criança cresce insegura, por ter ouvido sempre que era preguiçosa, fraca e mariquinhas."
- "As situações fazem com que a criança se ressinta e se debata constantemente com os seus sentimentos."
- "Vê-se sempre através dos olhos de pessoas que não a conhecem realmente e passa a ter uma grande dificuldade em lidar com situações de stress, difíceis ou conflituosas."

"As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos." - Charles de Gaulle

Mr.MorningStar

É uma situação que deveria ser discutida a nível do Plano de Saúde Familiar e do Sistema Nacional de Educação. Tem se negligenciado a saúde mental no Sistema Nacional de Saúde e na Educação tem de se "educar" os pais que não é só acompanhar os estudos de conhecimento, mas, saber entender todo o desenvolvimento educacional da criança.
Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível.

Pucca

Saphira, então tu és um exemplo prático daquilo que eu disse. :)

Mr. MorningStar (não podias arranjar um nome mais pequenino?) ;)

Isso é uma utopia, realmente achas que os nossos governantes estão preocupados com a sanidade mental e com o desenvolvimento emocional de quem quer que seja? Atá dá jeito, são mais uns bónus para as farmacêuticas , a venderem antidepressivos, comprimidos para dormir, para acordar, Ritalina, etc. As escolas e todo o sistema educativo são cacifos para depositar crianças durante 8 horas por dia.
Ainda ontem uma educadora de infância aconselhou uma amiga minha a levar o filho de 5 anos á psicóloga "porque via a vida cor de rosa" e tinha de ser mais competitivo, para ele está sempre tudo bem. Isso é patológico? Só numa sociedade muitooo doente.

Ou tens dinheiro para colocar os teus filhos numa escola waldorf onde realmente se preocupam com o bem estar emocional das crianças e o seu saudável desenvolvimento. Ou não tens remédio senão mete-los na "geringonça" que os formata á medida dos seus interesses.

Mr.MorningStar

Sempre me posso candidatar a primeiro ministro para materializar utopias. Até já estou a ver: "Sr. Primeiro Ministro Mr.MorningStar"  :D ;D

Não são utopias, mas, falta de interesse.
Há muito que os médicos defendem uma medicina preventiva do que uma medicina voltada para o tratamento, mas, há médicos preocupados com a carreira.
Há professores que encaram esse problema, mas, há outro preocupados com a carreira.
Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível.

Saphira

Só pelo simples facto de não haver psicólogos na maioria das escolas, ou só 1 para 500 pessoas...está tudo dito.
E pelo simples facto de haver poucos psicólogos públicos, tens de esperar uma eternidade e depois se te calha na rifa um que não te compatibilizas, ainda tens de esperar mais...

Infelizmente é mesmo uma utopia, um mundo em que todos os pais estejam preparados psicologicamente para educar os filhos.
Mas algum trabalho nesse sentido nas escolas, já é possível.

Eu, por exemplo, cresci com uma mãe com Transtorno de Personalidade Borderline. Alguém fez alguma coisa? Não.
Nem o resto da família nem organismo nenhum.
Liguei para instituições, incluindo a APAV, a tentar pedir ajuda e conselhos de como lidar com uma pessoa com problemas mentais e porque eu era uma vitima permanente em perigo eminente...Era necessário alguém intervir e ser prestado acompanhamento psicológico a um doente que não queria ser tratado e, assim, punha em perigo os outros. Toda a gente gaguejava e na prática, diziam que nada havia a fazer.

É este o país que temos
"As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos." - Charles de Gaulle

Pucca

CitaçãoSempre me posso candidatar a primeiro ministro para materializar utopias. Até já estou a ver: "Sr. Primeiro Ministro Mr.MorningStar"  :D ;D

Bora lá...tens o meu voto. :)

Athena

Citação de: Mr.MorningStar em Dezembro 09, 2016, 01:45:38
Sempre me posso candidatar a primeiro ministro para materializar utopias. Até já estou a ver: "Sr. Primeiro Ministro Mr.MorningStar"  :D ;D
Não são utopias, mas, falta de interesse.
Há muito que os médicos defendem uma medicina preventiva do que uma medicina voltada para o tratamento, mas, há médicos preocupados com a carreira.
Há professores que encaram esse problema, mas, há outro preocupados com a carreira.

Essa falta de interesse vai custar caro à sociedade. Torna os cidadãos menos participativos no geral.
Depois queixam-se que os consultórios dos psicólogos estão cheios. :(
A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia.
(Albert Einstein)